quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O que ninguém te conta


Essa semana conversava com um amiga que acabou de ser mãe. Ela me dizia que seu peito doia muito a ponto de chorar quando dava de mamar para sua bebê. Eu tentei tranquiliza-la dizendo que já já passa, dei algumas dicas (casca da banana e secador de cabelo - dica valiosíssima da comadre Júlia) e falei pra ela me procurar caso precisasse de alguma ajuda ou só desabafar. Lembrei de como eu sofri pra amamentar a Luiza nos primeiros dias (e como foi bem mais fácil com a Laura) e do pouco suporte que recebi nesses primeiros momentos. Ela agradeceu e disse: - "Nossa, ninguém te conta isso!". Eu ri e respondi: - "Não, você vai ver que não te contaram muitas coisas!"

Pois é, ninguém te conta porra nenhuma. E se te contam, você não absorve. Eu lembro, vagamente, de que quando estava grávida da Luiza uma pessoa me disse que eu ficaria uns 5 anos sem saber o que era dormir. Eu pensei, coitada, que azedume, que exagero. Pois é, após 1 ano e 10 meses de profissão mãe posso dizer que ela talvez não esteja errada. Não é exagero: dormir sono de pedra daqueles que pode acabar o mundo lá fora? Nunca mais. Dormir uma noite toda sem interrupção? Sabe lá Deus quando!

Entre outras coisas. Ninguém conta como a maternidade muda você. Sei que cada mulher é de um jeito, mas a maternidade muda todas e isso eu posso garantir. Ser mãe te transforma em outra pessoa, te transforma em mãe, na verdade, e todas aquelas outras Angélicas: a amiga, a divertida, a sarada, a louca, a ri a toa, a despreocupada, a sexy, a sensual, a qualquer coisa que não mãe, simplesmente desapareceram de uma noite pra outra. Assim, sem aviso prévio, sem nada. E eu fico magoada, sabe? Ninguém me avisou que isso aconteceria. Ninguém me preparou pra isso. Catar essas outras mulheres que ficaram por ai é um processo difícil e de certa forma doloroso. Há um livro da Laura Gutman, A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, que fala desses assuntos mas nem a literatura mais específica acerca da maternidade é capaz de suprir as lacunas entre o ser mãe e o ser mulher.

Ninguém te conta o quanto você se preocuparia. E aqui o verbo preocupar é ativo o tempo todo. Será que ela dorme o suficiente, será que come, que bebe, que respira o quanto deveria? E se ela estiver indo pra escola e um carro ultrapassar o sinal vermelho? E se eu estiver com ela indo ao médico e o táxi em que estivermos se envolver num acidente? E se ela contrair uma doença? É preocupação 24 x 7, o tempo todo, em todo instante. Isso é taaaaaaaaaaaaão estressante. Você não relaxa, parece sempre uma bomba relógio prestes a explodir. Luiza tem um resfriado por ano: que dura de maio à outubro e durante esses meses eu vivo um preocupação sem fim... e noites intermináveis... Quando Laura tinha 1 mês de vida, teve bronquiolite e talvez precisasse ser internada. Passei pelo momento mais angustiante da minha existência... Porque ninguém me contou que seria assim?

Ninguém te conta o quanto seria frustrante quando seu filho se recusasse a comer. Ninguém te conta que entre a mãe que você sonhou ser e a mãe que você será existe uma lacuna complicada de preencher. Ninguém te conta que você será julgada o tempo todo, inclusive por outras mães que deveriam te entender.

Há tanto pra contar, há tanto pra saber. Porque ninguém te conta? Minha mãe diz que é porque quando passa, a gente esquece... Será? Eu queria que minhas filhas, que se elas quiserem e Deus permitir, quando forem mães, que elas soubessem disso.  Talvez, hoje com tanta informação disponível isso seja mais fácil. E, de novo, nenhuma literatura por melhor que seja, me prepararia para a maternidade que eu exerço todos os dias. 

Eu queria que elas soubessem que ser mãe é (e é mesmo) maravilhoso, mas que soubessem também que é difícil e doloroso (fisicamente e sobretudo emocionalmente).

De certa forma eu sei que nunca farei isso. Ninguém te conta aquilo que você não pode, ainda, sentir.

2 comentários:

Flávia disse...

Na verdade eu acho que contam, só que a gente caga meio quilo, achando que é praga ou que aquela pessoa é a mais azarada do mundo! hahahahahaha:P. E aí dá para entender o ditado se conselho fosse bom a gente vendia, mas não porque não é bom e sim porque ninguém ouve!

Ju disse...

Eu tenho medo de coisas que nem cogitava... ex. do difusor de essências que eu coloco no quarto do Biel para ele dormir pegar fogo, são medos de coisas que eu nunca tinha pensado antes... Isso para ser superficial! Sem contar com as coisas que a mais profundas que a gente acaba se deparando... nossos traumas de infancia, o que a gente gostaria de ser e o que a gente é de fato... shiiii mt coisa. eu ando num momento reflexivo demais, precisando colocar mt coisa para fora!