sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Renascimento

Quem me conhece sabe que desde fevereiro de 2012 eu respiro maternidade. Me tornar mãe foi todo um processo que iniciou-se no dia que eu descobri a gravidez da Luiza em 10/02/2012 e pelo visto é ato contínuo.

Durante a gravidez da Luiza quase nada mudou, claro eu engordei, minha barriga cresceu e fiquei com peitos de Cicciolina (até ai tudo bem). A mudança mesmo ocorreu no dia que Luiza nasceu, em 06/10/2012. Naquele momento uma pessoa nova nasceu: a Angélica Mãe. Essa "nova" mulher tão diferente da Angélica de um dia antes foi um problema; nem eu me reconhecia naquela pessoa. Me tornei chata e só tinha um assunto: Luiza. Resumindo, isso se estendeu até o descobrimento da segunda gravidez naquele 24/06/2013, quando Luiza contava 8 meses e meio. Nesse dia nasceu outra mulher: uma mãe que tinha um filho e estava grávida do segundo que vomitava de hora em hora e estava de saco cheio de tudo. Ainda deveria lidar com o surgimento de mais outra mulher: a mãe de duas crianças/esposa e dona de casa. Ao final da segunda gravidez eu me questionava: porquê, ó Deus, porquê? Eu estava exausta e me sentia absolutamente sozinha.

Diferente da primeira gravidez, a segunda não foi tão festejada: claro, apenas 8 meses depois eu estava grávida novamente e deixou de ser novidade. Nesse momento eu fui estigmatizada no papel de mãe: estava condenada a isso. 4 meses depois voltei a trabalhar e conciliar dois filhos, marido e casa se tornou uma tarefa estressante: percebi que não dava conta de tudo, mesmo que à época meu marido pagasse uma fortuna para uma babá noturna. Me sentia culpada em não ser a mãe/esposa/dona de casa perfeita.

Entre ser mãe, esposa e dona de casa eu era péssima em todas as tarefas. No trabalho mediana. Comecei a colocar nos filhos e casamento o fato de não estar no emprego dos sonhos. Esqueci completamente que eu já estava nesse emprego muito antes dos filhos e do marido. Era mais fácil: não estou no emprego dos sonhos porque os filhos não deixam. E a frustração só aumentava. Ganho pouco pra tudo que quero comprar pras meninas e também pra mim. Afinal, após duas gravidezes minhas roupas de antes não cabem mais e ainda que coubesse simplesmente não combinam mais com a minha pessoa. Pra terem uma ideia a Angélica pré maternal usava 36, a atual usa 40. Fazer uma revolução guardaroupal custa caro e durante muito tempo eu só sabia comprar coisas pras meninas. Chegava numa loja e corria para a Sessão Infantil.

A verdade é que demorei pra fazer as pazes comigo. Mudei e isso tem um lado positivo e também um negativo. A maternidade me deixou num limbo existencial: quem é essa nova Angélica? Com o passar dos meses comecei a comprar uma peça ou outra de roupa até que quando vi estava com várias roupas novas: roupas que cabem e combinam com essa nova pessoa. Passei a prestar mais atenção em mim até que aceitei que essa barrigudinha mais cheinha sou eu. Há crises: outro dia estava decidida a comprar um vestido diferente e fui até a Farm (loja carioca de roupas transadas para jovens). O tamanho G de lá não coube e eu me senti extremamente frustrada. Afinal, antes eu usava P e cabia perfeitamente em QUALQUER roupa. Me senti inadequada e deprimida.

Com o tempo as coisas se encaixam. O tempo é sempre um remédio primordial. Aliás, soubessem as pessoas respeitar o tempo certamente haveria menos gente trabalhada nos Prozacs da vida. Aceitei que sou a mesma Angélica só que diferente: agora mãe, esposa, trabalhadora e dona de casa E, mais importante não precisa ser super em tudo.  Na expectativa de ser boa em tudo me tornei uma porcaria em tudo.

Hoje faço o que posso, sem criar expectativas, sem me culpar por não ser 100%. Aliás quando me dei conta que com duas filhas era no máximo 50% pra cada, tudo se tornou mais fácil. Entendi finalmente que quantidade não significa nada, importante é qualidade: se você só pode ser 50% seja 100% dentro disso.

Vislumbro hoje novas perspectivas: tanto na vida pessoal como profissionalmente. Porém tudo isso só é possível quando você se coloca em primeiro lugar. Você não precisa ser super em nada, só para você. Para ser bom em tudo você tem que estar inteira, senão tem somente pedaços pra oferecer.

Desejo a todos um 2015 inteiro!